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09/04/2013
Há vagas e bons salários para técnicos

A economia aquecida e a ênfase histórica na formação superior abriram grande espaço para profissionais de nível médio. Em alguns setores, eles chegam a ganhar mais que os colegas com diploma universitário

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que quem não tivesse curso superior dificilmente teria chances de conseguir um bom emprego e ser valorizado no mercado de trabalho. O sonho da maioria dos jovens era fazer vestibular e conquistar o diploma universitário, enquanto a formação técnica era associada a ocupações de menor mobilidade e status. Hoje a demanda crescente por esses profissionais vem calando o preconceito com números surpreendentes de empregabilidade e remuneração. Depois de muita espera, a educação profissional finalmente começa a ser vista com outros olhos no país dos bacharéis.

Pesquisas comprovam o reconhecimento que os profissionais que passaram por cursos técnicos vêm alcançando recentemente no Brasil. Uma delas, realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), mostrou que 80% dos formados da instituição em 2010 estavam trabalhando em 2011. Um estudo realizado pelo Ministério da Educação (MEC) indicou números semelhantes: dentre os alunos de nível médio que estudaram nas escolas técnicas federais entre 2003 e 2007, 72% estavam empregados, sendo 65% na área em que estudaram. Promovida pelo Centro de Estudos de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Instituto Votorantim, em 2010, a pesquisa A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho foi mais longe e mostrou que a chance de conseguir emprego de uma pessoa da população em idade ativa com formação profissionalizante concluída é 48,2% maior que a das pessoas com o mesmo perfil sem esse diferencial.

A trajetória da jovem Priscila Alves de Oliveira, de 19 anos, comprova o aumento de possibilidades que a qualificação técnica permite. Ainda no ensino médio, aos 15 anos, ela fez um curso de desenho mecânico e logo começou a trabalhar como aprendiz. Assim que iniciou no curso de Mecânica, no Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), em Joinville, os convites multiplicaram-se. Hoje ela trabalha na área de engenharia de manufatura da usinagem da Tupy S.A. depois de ter começado como estagiária na empresa, considerada referência mundial em fundição. “A formação técnica foi essencial para que eu estivesse aqui”, declara ela. “Acho que essa alta empregabilidade se deve ao fato de no primeiro ano do técnico haver muitas matérias práticas, e isso faz com que o aluno já tenha conhecimentos necessários para entrar no mercado de trabalho”, ressalta.

Remuneração competitiva
Os salários também costumam ser bastante atraentes, já que a demanda por esse tipo de profissional é crescente no Brasil e que a escassez de mão de obra qualificada leva o mercado a pagar altos salários para quem tem no currículo um curso técnico. A pesquisa da FGV e do Instituto Votorantim revela que o aumento nos salários após a conclusão em ensino médio profissionalizante chega a 17%.

Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 18 estados, entre abril de 2011 e março de 2012, demonstra que, em diversas regiões, um diploma de técnico vale mais que um de curso superior. O estudo identificou as 21 profissões mais valorizadas do Brasil e apontou que os salários médios de admissão variam de R$1,5 mil a R$2,5 mil. Após 10 anos de experiência, oscilam entre R$3,6 mil e R$7 mil. “Em Pernambuco, por exemplo, um soldador ganha, em média, R$3,5 mil. Esse salário está acima do que ganha um professor, um médico e outros profissionais com formação superior”, revela o gerente-executivo de Pesquisa e Prospecção do Senai, Márcio Guerra. Um técnico em edificações formado há dois anos ganha R$3,4 mil em São Paulo. No mesmo estado, um trabalhador com a formação idêntica e 10 anos de experiência tem salário médio superior ao de um engenheiro ou farmacêutico com mesmo tempo de atuação na área.

A diferença de remuneração chega a provocar atitudes incomuns, como no caso de Ari Pereira Sales Júnior, que abandonou duas faculdades — de Direito e de Administração — para estudar Mecânica no Senai, em Vitória (ES). Embora a decisão tenha sido motivada pela possibilidade de mais oportunidades de trabalho e de rápido crescimento profissional, ele reconhece que o incentivo maior foi realmente o salário, que nenhum profissional com curso superior ganha em início de carreira. “Comecei a trabalhar como técnico em Mecânica na área de petróleo e gás, com salário inicial em torno de R$5 mil, além das horas-extras”, conta. Hoje, ele trabalha em uma multinacional que presta serviços para a Petrobras. “Já tive propostas de outras empresas que prestam esse tipo de serviço para ganhar o dobro de salário; porém, como não tenho inglês fluente, perdi essas oportunidades”, lamenta.

Oferta e demanda
A primeira explicação para o aumento da procura por técnicos segue o princípio básico da economia: grande demanda e baixa oferta. A velocidade do crescimento econômico, bem maior que a da formação especializada, também favorece o cenário. Na opinião do gerente de Integração da Catho, Tiago Sereza, em todas as áreas as necessidades estão voltadas para profissionais que tenham visão prática e capacidade de se atualizar com rapidez. “Os formandos em universidades têm conhecimento bastante teórico e genérico sobre muitas faixas de atuação, enquanto aqueles que se especializam já saem preparados para executar as atividades no dia a dia das empresas”, explica.

A valorização recente desse perfil profissional também se deve à visão cultural “bacharelesca” do Brasil. Historicamente, o ensino técnico foi desvalorizado, deixando uma lacuna nas empresas, que precisam de profissionais desse tipo para assumir determinadas funções. “Na cadeia produtiva, todos os níveis são imprescindíveis e, como a educação técnica era pouco valorizada, foi deixada de lado durante certo período”, observa a reitora do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), Maria Clara Schneider. “O desenvolvimento tecnológico do país tem mostrado que a formação técnica é essencial para o nosso crescimento”, salienta.

Mesmo com muitas pessoas formadas em nível superior, os especialistas não acreditam que exista saturação de graduados no mercado ou que essa seja a razão para o aumento da procura por alunos da educação profissional. Na opinião geral, há espaço para ambos, e a economia aquecida apresenta oportunidades para diversos níveis de instrução, mas os técnicos vêm destacando-se em razão da necessidade de mão de obra especializada em setores estratégicos.

As áreas mais promissoras
Ocupações pouco comuns, como manutenção em aeronaves, mineração, mecatrônica, construção civil, petróleo e gás, lideram a lista das 21 profissões técnicas mais procuradas do Brasil, conforme pesquisa da CNI.

O Mapa do Trabalho Industrial 2012, elaborado pelo Senai, mostrou as profissões que estarão em alta nos próximos três anos.

Segundo o estudo, o Brasil precisará formar 7,2 milhões de trabalhadores em nível técnico (1,1 milhão para novas oportunidades e o restante em treinamentos de qualificação) até 2015. Entre as funções que necessitam de cursos profissionalizantes, a maior demanda está no setor de alimentos: 174,6 mil trabalhadores. O país também precisará de 88,6 mil operadores de máquinas para costura de peças do vestuário e de 81,7 mil preparadores e operadores de máquinas pesadas para a construção civil.

Técnico de controle da produção lidera o ranking das ocupações de nível técnico, com demanda de 88,7 mil profissionais, seguido de técnicos em eletrônica, com 39,9 mil, e de técnicos de eletricidade e eletrotécnica, com 27,9 mil. Outras profissões, como agentes de meio ambiente e trabalhadores do campo da logística também têm ganhado espaço no mercado de trabalho industrial.

A maior necessidade por empregados capacitados em ambos os grupos concentra-se nas regiões Sul e Sudeste, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. O Censo Escolar da Educação Básica 2011, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgou um ranking com os dez cursos da educação profissional com maior número de alunos. Enfermagem é o mais procurado na rede privada, com 22% de participação. Na rede pública, o destaque é Informática, com 13% do total. Nas escolas federais, destacam-se Agropecuária e Informática, escolhidos por 13% e 12% dos alunos, respectivamente.

Segundo o levantamento, os números de matrículas apontam para a expansão da modalidade. Considerando apenas a educação profissional concomitante e a subsequente ao ensino médio, o crescimento foi de 7,4% em comparação ao ano anterior, atingindo cerca de 1 milhão de matrículas em 2011. No caso do ensino médio integrado, os números indicam um contingente de 1,3 milhão de estudantes atendidos. Merece destaque a rede federal, que nos últimos nove anos mais que dobrou a oferta de vagas, com um crescimento de 143%.

Vantagens dos cursos técnicos
Se não bastassem benefícios como emprego praticamente garantido e salários compatíveis, pesa a favor da formação técnica a possibilidade de entrar mais cedo no mercado de trabalho.

Nas contas da CNI, um aluno faz um curso técnico em 18 a 24 meses, enquanto em uma faculdade o prazo, em geral, é de quatro anos. Outra vantagem é a quantidade de opções: existem 220 cursos técnicos em 4.101 estabelecimentos de educação profissional espalhados por instituições públicas e privadas em todo o Brasil.

Outros diferenciais importantes são os custos (ou não existe cobrança, no caso das escolas públicas, ou o valor da mensalidade é bem inferior ao desembolsado em uma faculdade) e a remuneração imediata. “Assim que me formei já ganhava o salário compatível com a função. No ensino superior, mesmo depois de formado, às vezes demora para ganhar um salário compatível”, compara Priscila Alves de Oliveira, funcionária da Tupy S.A.

Também conta pontos para a educação profissionalizante o fato de servir como degrau para a graduação. Além de permitir que o estudante financie uma universidade com o salário recebido, a experiência aproxima os alunos dos conteúdos específicos e permite uma escolha profissional mais segura.

Foi justamente esse o caminho trilhado por Ramon Louback, 24 anos, que é estudante de Engenharia Mecânica na Universidade Vila Velha, no Espírito Santo. Ele ingressou no Senai com 18 anos para fazer técnico em Mecânica Industrial, depois se tornou prestador de serviços para a instituição na área de soldagem e, em 2010, foi efetivado como instrutor. “Quatro ou cinco anos em uma faculdade é tempo suficiente para uma profissão mudar todas as suas características e necessidades diante do mercado de trabalho”. E acrescenta: “Uma formação de um ano e meio a dois anos permite ao aluno analisar a área que gosta, ver se oferece uma boa remuneração e se existe demanda”.

O fantasma do “apagão”
Se, por um lado, a abertura de milhões de vagas produzirá oportunidades em 177 ocupações, que vão desde padeiro até supervisor de produção de indústrias químicas e petroquímicas, a urgência dessa necessidade expõe outra face: o fantasma do “apagão” de mão de obra.

Hoje, apenas 6,6% dos brasileiros entre 15 e 19 anos frequentam cursos profissionalizantes. Em países desenvolvidos, o ensino técnico de nível médio é escolhido por cerca de 50% dos estudantes, conforme dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Infelizmente, falta informação”, afirma Márcio Guerra, do Senai. “Muitos preferem trabalhar no comércio, com ar- -condicionado, a ser torneiro mecânico, por exemplo. Os jovens precisam despertar para isso”, alerta. Ele destaca que o Senai oferece anualmente 2,5 milhões de vagas. Das 7,9 milhões de vagas previstas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) até o final de 2014, a metade será oferecida pela entidade.

Além de formar, outro desafio que vem exigindo tempo e investimentos da instituição é a fragilidade da educação básica dos alunos, que apresentam dificuldades em disciplinas como português e matemática. “Isso tem aumentado em 20 a 30% o tempo dos cursos para o nivelamento dos alunos”, revela. “Também há evasão por causa da dificuldade de acompanhamento, e a indústria sente isso”, reconhece Guerra.

O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli, defende que é essencial melhorar a qualidade do ensino fundamental para que o aluno não carregue essas deficiências por toda a sua carreira. “Não é algo isolado. O curso de nível técnico pode ser uma solução rápida para minimizar o problema do apagão, mas precisamos pensar a longo prazo. O apagão não é só de quantidade, é de qualidade”, aponta.

Fonte: Revista Pátio nº 16
Reportagem: Marcos Giesteira

 

 

 

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