Profissionais que sabem dois ou mais idiomas têm inúmeros benefícios, que vão além de conseguir um emprego
Para se destacar no mercado de trabalho, é preciso cumprir algumas regras básicas. Uma delas, falar no mínimo outro idioma, é pré-requisito. Porém, novas pesquisas mostram que saber outra língua, além de ajudar no crescimento profissional, pode contribuir para outros fatores que influenciarão na postura e sucesso do profissional.
Estudos indicam que bilíngues têm várias vantagens em relação aos monoglotas: aprendem com mais facilidade, estão mais protegidos contra a senilidade (envelhecimento), podem raciocinar de forma diferente em cada idioma, entre outros benefícios. Entretanto, quem sabe apenas o seu idioma materno não precisa se desesperar. De acordo com a professora da Graduação em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, Ana Maria Stahl Zilles, o monolíngue pode fazer uso de variedades de sua única língua e, assim, ter vantagens semelhantes às do bilíngue. “Ao dizer isso, estou querendo trazer à tona um conceito chave, que é o de repertório linguístico”, explica.
Segundo a docente, pessoas que dominam bem uma língua e aquelas que sabem várias estão em vantagem, porque têm repertórios mais amplos e complexos. “As maiores diferenças que percebo em alunos com repertórios linguísticos mais ricos é uma grande facilidade em tratarem as questões de língua abstratamente, usando uma capacidade que se chama metalinguística, fundamental para aprender a ler e escrever, e para interpretar textos, por exemplo.”
Os benefícios para quem sabe um ou mais idiomas não param por aí. Para Zilles, essas pessoas têm mais facilidade de fazer operações mentais, como a abstração, a comparação, a classificação, a interpretação, a análise de soluções, a resolução de problemas, a crítica e a avaliação. Além de ter atitudes mais flexíveis diante de situações diferentes do costume do país de origem, em virtude de participarem de mundos culturais distintos. E isso ajuda na hora de trabalhar e se adaptar, por exemplo, ao estilo das multinacionais.
Porém, é preciso ter cuidado na hora de aprender outra língua. A professora Ana Maria explica que para o aprimoramento cognitivo vale o princípio de que quanto mais, melhor. “Nosso potencial mental é enorme e pode ser ocupado com múltiplas tarefas, aprendizagens e relações.” Mas a docente alerta que viver num fluxo constante de apreensão de novos conhecimentos pode ter um impacto negativo, por não deixar espaço para pensar, processar criticamente as informações, hierarquizá-las e aprofundá-las.
Nem tudo é inglês
Na hora de aprender outro idioma, as pessoas geralmente procuram apenas o inglês, por entenderem que ele é o mais importante. Enganam-se. Hoje, outras línguas são indispensáveis na hora de disputar uma vaga. Para Zilles, três aspectos devem ser levados em conta quando o assunto é qual o idioma mais importante: em primeiro lugar, que línguas a pessoa fala e sua importância para o trabalho específico a ser executado; em segundo, qual a posição delas em questão no mercado linguístico; e, por último, qual o grau de proficiência em cada uma das línguas e em que domínios ou áreas do conhecimento a pessoa pode ser bem sucedida.
A professora destaca o inglês, espanhol e mandarim, em virtude do mercado, como os três mais procurados. Mas, na região sul, outras línguas se destacam na hora da obtenção de um emprego, como alemão, italiano e japonês. “E, considerando razões sócio-históricas, há outras que deveriam fazer parte da nossa lista de possibilidades, como o francês, por sua tradição cultural e sua importância em nossa própria história; as línguas indígenas brasileiras, especialmente para áreas de trabalho como antropologia, saúde e educação; e a língua brasileira de sinais, cujo ensino é obrigatório nos cursos de licenciaturas”, finaliza.
Texto: Pablo Furlanetto